Ontem foi o quarto e melhor dia de filmagens até agora. Hoje, um dia de folga para a maior parte da equipe, fui tratar de ver prova de figurino da próxima atriz que filma, a Nina Morena. Nina começa na terça e ainda havia indefinições quanto ao que ela vai vestir. Agora está tudo certo. Daqui vou para a Mixer, co-produtora do projeto, onde o material filmado até agora vai ser digitalizado. Vou aproveitar para ver tudo em companhia da Karen Sztajnberg, montadora do projeto, e da Pat Bat, produtora de finalização.
Prova de figurino é um momento difícil para mim, e acho que a maior parte dos meus leitores homens vai entender porque. Vejam vocês, o que um diretor faz? ele responde perguntas. O ator quer saber se fala mais alto ou mais baixo. O fotógrafo quer saber se enquadra assim ou assado. E por aí vai. Alguns diretores são mais “produtores”, no sentido em que indicam com mais precisão o que desejam e apenas esperam que os departamentos o realizem, enquanto outros são mais “editores”, isto é, dão um conceito e pedem propostas, para depois aprovar, desaprovar ou corrigir o material que vem dos vários setores criativos.
Eu sou dessa segunda categoria de diretores. Eu gosto de ver o que atores, fotógrafo, diretor de arte, editor tem a propor, e então busco caminhos dentro da criatividade deles que se alinhem com a minha.
Ninguém é especialista em tudo, e opinar em algumas áreas é mais fácil que em outras. Meu maior problema é com figurino, maquiagem, aparência das pessoas em geral. Quando a figurinista me apresenta uma atriz com uma proposta de roupa eu me sinto como o marido que sabe que a chance de dizer alguma coisa errada quando a mulher pergunta “tô legal?” é enorme.
Ao contrário do marido, eu não posso, ou pelo menos não devo, simplesmente sondar o terreno e ver qual é a resposta que a pessoa quer escutar. Eu tenho que pensar no filme, na luz, nas roupas dos outros atores, nas cores, na forma, na relação entre aquela roupa e o perfil e atitudes do personagem e, por último mas não menos agoniante, se a roupa cai bem na atriz ou ator, se não vai enfeiá-los, ressaltar algo que não devia. Tenho, por exemplo, que ver se o peito da atriz vai ficar bem. Convenhamos que é um certo excesso de intimidade… mas ao qual eu não posso me furtar.
Ter gente boa cuidando disso é muito importante. Você tem que confiar no senso do pessoal de arte e figurino a respeito – sem medo, no entanto, de ir contra, caso sua intuição de marido acenda algum alerta. Nesse filme, estou super bem acessorado por uma dupla ótima, que está cuidando da direção de arte, cenário e figurino: Joana Moraes e Beth Passi. Com as opções que elas trouxeram hoje, a minha vida de diretor-marido ficou bem fácil.
Agora, vocês me dêem licença que eu tenho que ver o material filmado com a Karen. Até a próxima.